A pílula do dia seguinte e o rompimento da Trompa de Falópio
- Jorge Lima
- 19 de out. de 2017
- 5 min de leitura

Você sabia que cerca de 6 milhões de gestações inesperadas aconteceriam anualmente, mesmo que todas as mulheres usassem corretamente os métodos anticonceptivos à disposição no mercado? Isso, sem citar aquelas que não se previnem de forma satisfatória. Na contramão dessas estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi desenvolvida a pílula do dia seguinte.
A pílula do dia seguinte pode ser comparada à trompa azul da série How I Met Yout Mother, ou seja: é aquilo que é quase o que você quer, mas não completamente!
Afinal de contas, o que é a pílula do dia seguinte?
A PDS é um contraceptivo oral pós-coito. No entanto, é importante frisar que a pílula do dia seguinte é apenas um dispositivo de emergência! Pois, seu uso indiscriminado pode acarretar sérios problemas à saúde da mulher. Além disso, o uso repetitivo da contracepção de emergência diminui a sua eficácia.
Os principais medicamentos utilizam uma das seguintes substâncias ativas em suas fórmulas: o acetato de ulipristal, a mifepristona ou o levonorgestrel. Alguns estudos sugerem que o meloxicam também possa ser usado com tal propósito.
“O contraceptivo de emergência deve ser utilizado apenas “em casos de suspeita de falha do método contraceptivo normalmente utilizado (por exemplo: ruptura ou deslocamento do preservativo masculino ou feminino, que tenha permitido contato do esperma na genitália feminina; deslocamento, ruptura ou remoção antecipada do diafragma ou capuz cervical; falha na interrupção o coito com contato do esperma na genitália feminina, cálculo incorreto do método periódico de abstinência; expulsão/extrusão de D.I.U. ou implante subcutâneo; em caso de ter ocorrido relação sexual desprotegida em momento de uso incorreto da pílula anticoncepcional rotineira); em casos de relação sexual sem proteção por método contraceptivo; em casos de agressão sexual por meio de força física.”[1]
Como funciona a pílula do dia seguinte?
O acetato de ulipristal funciona impedindo ou atrasando a liberação de um óvulo do ovário. Também age dificultando a aderência do óvulo fertilizado no útero por efeito direto no endométrio. Seu uso é Indicado até 120 horas (5 dias) após uma relação sexual não protegida ou em caso de falha do método contraceptivo. O tratamento consiste na administração oral de um comprimido do agente ativo. Alertas: evite o medicamento se sofrer de problemas graves de asma ou doença severa do fígado. Uso apenas para mulheres acima dos 18 anos de idade. A amamentação é desaconselhada durante 7 dias após a sua administração. O acetato de ulipristal não tem efeito abortivo. Pode provocar a gravidez na Trompa de Falópio e, consequentemente, o rompimento desta.
A mifepristona é um abortivo. Amolece e dilata o colo do útero. Contra indicações: insuficiência suprarrenal crônica, hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer um dos excipientes, asma grave não controlada por terapêutica e porfiria hereditária. Não deve ser usado por mulheres que estão amamentando.
O levonorgestrel possui elevada concentração hormonal. É um medicamento cuja dose única de 1,5 mg deve ser feita até 72 horas após a relação sexual. Sua eficácia até 24 horas após a relação sexual é de 95%; de 85% quando ingerida de 24 a 48 horas após a relação sexual, podendo cair a 58% se administrada de 48 a 72 horas (3 dias) após a relação sexual. O vômito ocorrido até duas horas após a ingestão do levonorgestrel sugere a ingestão de outro comprimido da droga, por medida de segurança. “Quando administrado na primeira fase do ciclo menstrual, altera os folículos e impede ou retarda a ovulação por vários dias. Quando administrado na segunda fase do ciclo, altera o transporte LEVONORGESTREL 2 dos espermatozoides e do óvulo nas trompas, modifica o muco cervical e interfere na mobilidade dos espermatozoides. De um modo ou de outro, impede o encontro entre óvulo e espermatozoide, não ocorrendo a fecundação.”[2] Segundo o Food and Drug Administration (FDA), órgão controlador de alimentos e de medicamentos norte-americano, o levonorgestrel tem ação ineficaz em mulheres com mais de 80 kg e reduzidamente eficaz em mulheres com mais de 75 kg, Este medicamento causa má formação do bebê se usado durante a gravidez. Pode ter diversos efeitos sobre o ciclo menstrual, incluindo atrasos e sangramento irregular. “Outras reações adversas muito comuns são náusea, fadiga, dor abdominal inferior, cefaleia e tontura. Reações adversas comuns (> 1/100 e < 1/10): sensibilidade mamária, diarreia e vômito.”[3]
Gravidez na trompa ou gravidez tubária
A Trompa de Falópio é um tubo que conduz os óvulos dos ovários para o útero. São duas as trompas; cada uma iniciando em cada ovário.
No processo normal da reprodução, o espermatozoide penetra no óvulo e fecunda-o. Logo após ocorre a formação da célula-ovo ou zigoto, o qual sofre várias divisões durante o seu trajeto pela trompa até o útero. Chegando ao útero, ele se implanta em suas paredes (nidificação), que por efeito de hormônios estão espessadas por sangue. Segue-se então a formação do bebê.
Na gravidez na trompa ou gravidez tubária, o zigoto não chega ao útero, detendo-se em alguma parte do caminho, no interior da Trompa de Falópio.

A pílula do dia seguinte e o rompimento da trompa
A tuba uterina exerce um movimento ativo no momento da ovulação, fazendo com que sua extremidade em forma de funil se aproxime da superfície do ovário, beneficiando a colheita do ovócito que foi ovulado.
A contração da musculatura lisa e o movimento das células ciliadas existentes na parede da trompa são os responsáveis pelo transporte do o óvulo fertilizado (zigoto) até o útero.
As mudanças que ocorrem no sistema reprodutor da mulher são regidas por hormônios e, a pílula do dia seguinte tem como função causar um desarranjo hormonal no organismo feminino a partir de uma verdadeira bomba de hormônios, visando a não ovulação ou a inviabilidade do zigoto. Como efeito, o movimento natural das trompas pode diminuir e fazer o transporte desse zigoto ser interrompido antes de atingir o ovário. Estabelecendo-se na trompa, ele não evolui normalmente. Ocorre a morte do ser em formação, cujo crescimento pode vir a romper a trompa, causar dores agudas no abdômen, taquicardia, suor intenso, desmaios e evoluir para uma desmesurada hemorragia, que pode ser fatal.
Na foto acima, as setas vermelhas indicam a gravidez tubária.

Recomenda-se que, ao sentir os mesmos sintomas de uma gravidez normal (atraso na menstruação, seios sensíveis e inchados, fadiga, náuseas ou aumento da micção), a mulher que fez uso da pílula do dia seguinte procure um ginecologista ou obstetra e relate a ingestão da droga.
Caso venha a sentir algum dos sintomas do rompimento da trompa (dores agudas no abdômen, taquicardia, suor intenso, desmaios e considerável hemorragia), deve-se procurar um serviço de emergência. Citar o uso da pílula é imprescindível para um diagnóstico mais rápido. Urgência é tudo nesse caso! As medidas de emergência e o tratamento precoce de uma gravidez tubária podem ajudar a preservar a fertilidade da mulher e, a sua própria vida!
Videolaparoscopia em uma paciente portadora de gravidez tubaria onde nota-se sangue na cavidade pélvica: VÍDEO DA CIRURGIA
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[1] https://consultaremedios.com.br/levonorgestrel/bula
[2] http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolo_levonorgestrel_anticoncepcao_hormonal_emergencia.pdf
[3] https://consultaremedios.com.br/levonorgestrel/bula
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